O ser sábio então decide realizar um experimento. Conhecendo o desejo da criatura por ouro, forja uma estatueta dourada, feita à imagem e semelhança do ser ganancioso. É feita bela, mesmo que a criatura em si seja horrenda, e encanta seu destinatário, pois além de ganancioso, este é vaidoso, e o desejo de possuir sua própria imagem em ouro faz com que ele se dobre à qualquer um. Quando a brilhante estatueta cai na escuridão sem funda dos seus olhos pingando de desejo, ela está perdida para sempre.
O sábio a oferece a criatura, dizendo porém que ela tinha certas condições especiais. Disse que ela iria se esvair com o tempo, e que o único modo dele mantê-la em suas mãos seria pedindo a estátua que ficasse. Porém, essa tinha vontade própria, e se não desejasse ficar no momento que fosse chamada à ficar, iria esvair-se com mais velocidade a cada pedido. O ser ganancioso, sua mente entupida de desejo irracional, aceita sem pensar, e toma em suas mãos o objeto, enquanto o ser mais poderoso finge ir embora e põe-se a observar seu experimento.
Nos primeiros momentos, o ser sorri, e se vê realmente feliz, por ter nos braços seu objeto máximo de desejo. Porém, ela começa a se esvair, a desaparecer lentamente. Ele procura não se desesperar, e a pede, com calma, que fique. Então ela vai retornando, os pedacinhos se encaixando novamente para lhe fazer sorrir novamente. E ele passa mais alguns momentos felizes. Após alguns tempo, a estatueta novamente começa a se desfazer, a soltar seus pedaços em poeira que flutua lentamente pelo ar. O ser ganancioso, vendo seu objeto de desejo, seu objeto de paixão, desfazer-se em frente aos seus olhos, olhos que começavam a lacrimejar, pede à estatueta que fique. E um grande bocado dela se esvai no ar.
Desesperado, ele chora. Pensa em pedir devagar, mais uma vez, com mais calma. E outro pedaço vai embora. Então ele decide que é melhor ficar calado. É melhor calar, e observar, agonizante, aquilo que você ama ir embora, perder-se, em vez de pedir, de implorar, e ver tudo ir embora de uma vez. Enquanto a poeira dourada se acumula, subindo aos céus, ele chora, chora por ter um mar de palavras dentro de si, e pela vontade insana de pedir que volte, de pedir que fique, de pedir que nada mais mude, para que ele seja feliz novamente. E não diz uma palavra. Não diz para aproveitar os últimos segundos daquilo que ama, sabendo que ela está lá, sob seus olhos, sob seu zelo... até que o último pedaço se vai, desfazendo-se no ar, uma parte da poeira prendendo-se aos seus olhos e fazendo o chorar ainda mais. E vendo o dourado no ar, ele, já tendo perdido aquilo que ama, pode soltar para ela tudo o que tem a dizer. Mas, pelo costume, não diz uma palavra.