segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Não mais

     Hoje acabou o meu namoro de um ano com a menina que é razão de eu não ter escrito um texto como esse sequer em um ano. Por um ano, quando eu sentia o amor começar a borbulhar na forma de palavras, eu ia até ela, e dizia. Mas, a partir desse dia, eu não posso mais fazer isso. Então, cá estão as palavras, vazando novamente nesta forma, esperando que alguém ouça e compreenda; mesmo que no fundo eu saiba que ninguém nunca vai realmente compreender; pois podem sentir perdas maiores ou menores, mas cada perda é única, e hoje, eu a perdi. Hoje, eu guardo numa caixa os ingressos de cinema que eu colecionei por um ano. Os convites para uma festa com nossos nomes. E numa caixa menor, num lugar mais discreto e profundo, eu guardo cada memória. Cada dia, cada sorriso, socado no fundo da caixa de memória, arquivado agora entre milhões de outras pastas comuns; e no meu coração, a mansão que era a morada dela vira agora uma casinha discreta, da qual as chaves eu perdi para sempre. Chuva, frio, caramelo. Não mais carinho. Não mais boa noite e bom dia. Lágrimas. Não mais ela. Não mais. Não.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Chuva, frio, carinho, caramelo

Beijos no ouvido, brilho nos olhos, risos de alegria. Olho no olho, lábio no lábio, braços ao redor. Passos lado a lado, mãos dadas, caminhando juntos. Feliz em te ter, medo de te perder, vontade de te ver. Sorrisos, bobagens, piadas. Besteiras, gargalhadas, brincadeiras. Mesmas músicas, mesmas manias, mesmos gostos. Chuva, frio, carinho, caramelo. Eu e você.

sábado, 8 de dezembro de 2012

A ampulheta

A TV banhava em luz fraca seu corpo deitado sobre a cama, ela mal assistindo. Na verdade apenas pensava, imóvel ali, em muita coisa. Pensava bastante em porquê sua sorte havia lhe abandonado num beco escuro como aquele. Mas não achava resposta, e sentia-se forçada a caminhar até a parede, até aquelas malditas duas portas, tão diferentes e tão iguais... Inclinava-se para esquerda andando, mas era a
penas o vício das curvas que fizera antes de chegar ali. A porta da direita parecia mais leve. Embora a da esquerda parecesse mais pesada, as vezes até mais distante, tinha uma bela pintura, e a guirlanda que a decorava era tão bela e chamativa que era difícil tirar os olhos dela. Exceto para a olhar para a porta da direita, tão diferente, tão... bizarramente original, que chegava a ter um certo charme. Como escolher? Ela começou a correr em passos trôpegos, ofegante, assutada, quando por fim, caiu. Acordou suando, o olhar de desespero em seu rosto. Levantou, foi até o criado mudo e olhou o presente que havia lhe causado esse pesadelo. Envolta em suas mãos estava, pequena e frágil, uma ampulheta. Ela sabia o que ele quisera dizer com essa mensagem. Sim, ela sabia. "O tempo passa".

domingo, 2 de dezembro de 2012

Ambidestra

Tinha essa garota ambidestra. Direita, esquerda; equilibrava em suas mãos dois mundos, dois rumos. Equilibrava com maestria, mas eles ficavam cada vez mais pesados. Ela sabia que teria que soltar um dos dois a certo ponto, antes que ambos caíssem e se despedaçassem aos seus pés. Desejava arduamente não ter que escolher, mas ficavam cada vez mais pesados. Alguma hora ela vai ter que por algum no chão. E este se quebrará em mil cacos de vidro, saudosos do tempo em que pertenciam à aquelas mãos quentes e confortáveis. Direita, esquerda, o tempo passa.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Temor

O vento sibilando em meus ouvidos, o mar batendo nas rochas ao longe, e eu fingia te procurar. Andava olhando para os lados, atento, como se realmente quisesse te encontrar ali, temeroso com eu estava.
"Você sabe onde ela está. Só não quer encontrá-la."
Eu parei.
"Sim. Eu sei."
Dei meia volta, para me afastar de você. O medo do que poderia vir me fez pensar que eu não sabia onde te encontrar.
Mas eu sabia.

sábado, 29 de setembro de 2012

Fim.

Embora você estivesse bem ao meu lado, nunca esteve tão distante quanto ali. Podia sentir você escapar por entre meus dedos, e eu tentava, com todas as forças, te prender comigo, não deixar, mas você já não podia mais. Pus minhas mãos sobre e você, e pedi que lutasse, pedi que fosse forte, por mim. O pouco de força que você ainda tinha apertou minhas mãos quando uma tosse sacudiu seu corpo violentamente. seu rosto perdendo lentamente a cor. Onde estava o brilho que eu descobri nos seus olhos agora? Onde estaria a voz reconfortante que me faz feliz quando mais preciso? Minhas lágrimas caiam sobre seu coração fraquejante, e eu sussurrava para que ficasse. Mas você estava tão longe que nem gritos lhe alcançariam agora. E então, onde antes eu tinha o seu calor, sinto apenas frio.

sábado, 22 de setembro de 2012

Lembranças ao vento

Hoje eu achei um fio de cabelo seu aqui. Parece bobo, eu sei, mas achei. Estava dentro d'um dos livros que você me emprestou, uma das pontas sobressaindo dentre as páginas. Achei que fosse meu, a princípio, mas quando puxei, o tamanho comprido me disse que não. Além de você, havia sido eu o único a tocar nele nos últimos tempos. Logo, o cabelo era seu. O pus entre meus dedos e brinquei com ele um pouco. Achava que não daria tanta atenção a algo assim a essa altura do campeonato, mas o sol a iluminar aquele fio refletiu na minha mente memórias que há tempos eu vinha sufocando. Testei o fio, puxando suas pontas, e vi que era resistente... Por que não fora então o quer que nos ligava? Deixei por fim o vento carregá-lo, sem remorso. Assim como você, já não era mais meu.

sábado, 15 de setembro de 2012

Presente Fora de Época


                Alguns presentes são dados fora de época... São esses, por vezes, os que mais agradam, surpreendo quem os ganha. Foi assim que eu me senti outro dia, quando me peguei pensando em você e percebi que algo te fazia importante pra mim, justo você, que eu conheci agora há pouco. Talvez sejam seus olhos, ou seu sorriso, ou seu jeito; as risadas que eu dou com você, o jeito como você põe a cabeça no meu ombro, ou o olhar zombeteiro que você me lança às vezes... Alguma coisa nisso tudo te faz especial pra mim. Alguma coisa me faz, toda vez que me distancio de você, olhar para trás e querer voltar, só pra não sentir de novo aquela sensação de que está faltando algo. De que está faltando você.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Palavras Contidas

          Certa vez, um ser de grandes poderes, estudioso da mente e das emoções humanas, encantado com a capacidade de amar do ser humano, encontra um ser vil, cruel, feito apenas de ganância. Os olhos da criatura eram profundos, como um poço onde objetos de desejo caem e se perdem para sempre na sua insana obsessão, até que ele possa tê-los e amá-los, e cuidar deles, para que ninguém mais possa tê-los, ninguém mais, seus objetos.
           O ser sábio então decide realizar um experimento. Conhecendo o desejo da criatura por ouro, forja uma estatueta dourada, feita à imagem e semelhança do ser ganancioso. É feita bela, mesmo que a criatura em si seja horrenda, e encanta seu destinatário, pois além de ganancioso, este é vaidoso, e o desejo de  possuir sua própria imagem em ouro faz com que ele se dobre à qualquer um. Quando a brilhante estatueta cai na escuridão sem funda dos seus olhos pingando de desejo, ela está perdida para sempre.
            O sábio a oferece a criatura, dizendo porém que ela tinha certas condições especiais. Disse que ela iria se esvair com o tempo, e que o único modo dele mantê-la em suas mãos seria pedindo a estátua que ficasse. Porém, essa tinha vontade própria, e se não desejasse ficar no momento que fosse chamada à ficar, iria esvair-se com mais velocidade a cada pedido. O ser ganancioso, sua mente entupida de desejo irracional, aceita sem pensar, e toma em suas mãos o objeto, enquanto o ser mais poderoso finge ir embora e põe-se a observar seu experimento. 
          Nos primeiros momentos, o ser sorri, e se vê realmente feliz, por ter nos braços seu objeto máximo de desejo. Porém, ela começa a se esvair, a desaparecer lentamente. Ele procura não se desesperar, e a pede, com calma, que fique. Então ela vai retornando, os pedacinhos se encaixando novamente para lhe fazer sorrir novamente. E ele passa mais alguns momentos felizes. Após alguns tempo, a estatueta novamente começa a se desfazer, a soltar seus pedaços em poeira que flutua lentamente pelo ar. O ser ganancioso, vendo seu objeto de desejo, seu objeto de paixão, desfazer-se em frente aos seus olhos, olhos que começavam a lacrimejar, pede à estatueta que fique. E um grande bocado dela se esvai no ar. 
            Desesperado, ele chora. Pensa em pedir devagar, mais uma vez, com mais calma. E outro pedaço vai embora. Então ele decide que é melhor ficar calado. É melhor calar, e observar, agonizante, aquilo que você ama ir embora, perder-se, em vez de pedir, de implorar, e ver tudo ir embora de uma vez. Enquanto a poeira dourada se acumula, subindo aos céus, ele chora, chora por ter um mar de palavras dentro de si, e pela vontade insana de pedir que volte, de pedir que fique, de pedir que nada mais mude, para que ele seja feliz novamente. E não diz uma palavra. Não diz para aproveitar os últimos segundos daquilo que ama, sabendo que ela está lá, sob seus olhos, sob seu zelo... até que o último pedaço se vai, desfazendo-se no ar, uma parte da poeira prendendo-se aos seus olhos e fazendo o chorar ainda mais. E vendo o dourado no ar, ele, já tendo perdido aquilo que ama, pode soltar para ela tudo o que tem a dizer. Mas, pelo costume, não diz uma palavra.

domingo, 5 de agosto de 2012

Algo bom

{TEXTO FICTÍCIO}
           

      Quando o amor se distancia no tempo, você começa a pensar mais com o cérebro e menos com o coração. Você se torna mais racional, e percebe seus erros, palavras as quais deveria ter dado atenção, mas não soube dar. Percebo que você foi a calma onde em mim só havia ansiedade. A verdade onde eu só queria ilusão. Você foi a sensatez que diluiu minha paixão – porque sim, paixão é loucura – soltando as amarras que me prendiam à você. Eu estava preso, a sede por liberdade invisível fronte ao fogo da paixão. Naquele dia frio, você quebrou minhas correntes e me deu algo melhor: o caminho da sua casa. Agora eu posso estar com você quando eu quiser, não mais preso indefinidamente naquela jaula de sentimento insano. Agora eu não mais penso em você a cada segundo. Agora eu sou livre, e vou vivendo a liberdade que você me ensinou a viver, e não mais idolatro seu sorriso, seus gestos, seu jeito. Não. Apenas sei o quanto eles podem me fazer sorrir, e, ocasionalmente, eles passam por minha mente. Eu já sei o que eu sinto por você. Não amor, o qual desconheço. Não paixão, a qual não desejo. É algo ainda não nomeado, algo entre o bem querer e o desejo, fruto da amizade e dos caprichos do coração. Algo que eu aprecio sentir, pois já não mais me machuca, e sabe me fazer pensar com o cérebro enquanto uso o coração para suas devidas funções. Algo bom. Algo que quero compartilhar com você. Quando você quiser.