As gotas de água pingavam na poça que já havia se formado, aumentando ainda mais seu tamanho. As pessoas que passavam não notavam a presença diferenciada que quebrava silenciosamente o padrão ao seu redor; o homem encapuzado passava despercebido. Aquele homem que ali passava tinha um objetivo único, e não era subordinado a ninguém senão à sua própria vontade. Seus dons o diferenciavam dos outros, e para aqueles que o conheciam intimamente, ele era especial, embora para os desconhecidos fosse só mais um.
Com suas habilidades especiais, ele ia alterando o ambiente ao seu redor. Os postes iam se transformando em árvores altas e folhadas à medida que ele passava, e onde o cimento havia há muito dominado, começava então a brotar um verde inusitado ante sua presença. As pessoas iam tornando mais felizes, e começavam a cumprimentar-se ao se cruzarem. Os altos prédios iam pouco a pouco, ganhando de volta os anos que o tempo havia lhes tirado, retomando assim suas cores originais e dando um tom mais vibrante a paisagem.
O sol brotava no céu, não porque era da preferência do homem encapuzado, mas sim porque era um símbolo de felicidade. Pássaros de todos os tipos agora cruzavam o céu, seu canto reverberando pelas ruas da cidade e dando vida àquele lugar que por anos havia permanecido mórbido, assim como os sentimentos e emoções de seus habitantes. A felicidade ia, pouco a pouco, voltando a ser inquilina daquele lugar esquecido.
Tudo isso graças ao homem encapuzado e sua vontade. Sua existência era alheia à dos cidadãos, como se vivesse em outro plano. Pessoas, coisas e até o próprio tempo moldavam-se à sua vontade. Quando ele decidiu que estava bom, foi adentrando o universo que tinha acabado de criar: não pôs nele filhos ou criação; queria que aquele fosse seu novo mundo por alguns instantes, onde pudesse viver como sempre sonhou. Então, uma pessoa aproximou-se dele, uma mulher, e lhe tirou o capuz. ‘Lá fora me ignoras’ o homem disse a ela, ‘Mas aqui me amas. ’ Ela sorriu em concordância, e a história de ambos se desenrolou, enquanto, em outro lugar não muito distante, talvez um pouco acima, o escritor pousou a caneta na mesa e parou para ler o texto que havia acabado de escrever, onde o mundo era como queria e todos os seus sonhos poderiam se realizar quando quisesse.
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