sábado, 8 de dezembro de 2012

A ampulheta

A TV banhava em luz fraca seu corpo deitado sobre a cama, ela mal assistindo. Na verdade apenas pensava, imóvel ali, em muita coisa. Pensava bastante em porquê sua sorte havia lhe abandonado num beco escuro como aquele. Mas não achava resposta, e sentia-se forçada a caminhar até a parede, até aquelas malditas duas portas, tão diferentes e tão iguais... Inclinava-se para esquerda andando, mas era a
penas o vício das curvas que fizera antes de chegar ali. A porta da direita parecia mais leve. Embora a da esquerda parecesse mais pesada, as vezes até mais distante, tinha uma bela pintura, e a guirlanda que a decorava era tão bela e chamativa que era difícil tirar os olhos dela. Exceto para a olhar para a porta da direita, tão diferente, tão... bizarramente original, que chegava a ter um certo charme. Como escolher? Ela começou a correr em passos trôpegos, ofegante, assutada, quando por fim, caiu. Acordou suando, o olhar de desespero em seu rosto. Levantou, foi até o criado mudo e olhou o presente que havia lhe causado esse pesadelo. Envolta em suas mãos estava, pequena e frágil, uma ampulheta. Ela sabia o que ele quisera dizer com essa mensagem. Sim, ela sabia. "O tempo passa".

domingo, 2 de dezembro de 2012

Ambidestra

Tinha essa garota ambidestra. Direita, esquerda; equilibrava em suas mãos dois mundos, dois rumos. Equilibrava com maestria, mas eles ficavam cada vez mais pesados. Ela sabia que teria que soltar um dos dois a certo ponto, antes que ambos caíssem e se despedaçassem aos seus pés. Desejava arduamente não ter que escolher, mas ficavam cada vez mais pesados. Alguma hora ela vai ter que por algum no chão. E este se quebrará em mil cacos de vidro, saudosos do tempo em que pertenciam à aquelas mãos quentes e confortáveis. Direita, esquerda, o tempo passa.