sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A cor comum

          A primeira gota caiu enquanto eu ainda estava longe. Eu pude sentir. A maleta de adornos prateados que eu segurava em minhas mãos foi ao chão quando o misto de choque e adrenalina me atingiu em cheio, fazendo com que eu começasse minha corrida desesperada, deixando para trás meus pertences, que se espalharam pelo chão quando meu então inútil compartimento se abriu ao se chocar com o chão, num baque surdo que representava todas as esperanças que eu deixava para trás.
           Meus passos apressaram-se quando a segunda gota encontrou a primeira, misturando-se para começar a formar uma perigosa poça, que espelhava tudo aquilo ao que eu estava me dirigindo. Eu precisava chegar lá antes que gotas demais se embaralhassem num desgostoso anúncio que atirava minha inutilidade em meu rosto.
          A terceira gota atingiu o chão em tempo a se unir em dolorosa cumplicidade à minha crescente aflição. O tempo passava, e eu precisava alcançar o meu destino o mais rápido possível. Minha presença era vital, e a distância comprimia-se em velocidade perigosamente devagar, enquanto o tempo se esticava de maneira preguiçosa, sem pressa de passar, assistindo tudo àquilo como um espetáculo delicioso.
          Uma pequena poça já havia se formado com a quarta gota, e minha aflição rapidamente transformou-se em voraz desespero. Eu ia me cansando e deixando o cansaço de lado; se não alcançasse o destino a tempo, seria fatal.
          A quinta gota tocava o chão enquanto um sorriso perverso formava-se no rosto do ardiloso tempo, e a distância dobrava-se gentilmente, mas ainda sim devagar, e meu medo crescia aterradoramente.
          Eu a alcancei na sexta gota. Imagine meu desespero ao perceber que não eram gotas, mas uma cachoeira de sangue que deixava seu corpo, levando a vida que eu tanto amava embora. Me aproximei lentamente, e você sussurrou ao meu ouvido, “Eu tentei”.
          Mas eu não podia deixar você ir. Em um gesto de amor, uma tênue linha branca saiu das minhas veias e adentrou seu corpo, e enquanto me senti ligeiramente mais fraco, você se ergueu, seu rosto vívido novamente. Você olhou bem para mim, e seu sorriso expressou toda a felicidade que me moveu a fazer aquilo.
          Amar é dividir a vida.

Um comentário:

  1. Estou descobrindo um sobrinho completamente apaixonado. Eu só conhecia do apaixonante...Beijos

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