sábado, 12 de novembro de 2011

Correndo para você

          O vento sussurrava aos meus ouvidos segredos incompreensíveis enquanto eu corria em velocidade, deixando para trás os prédios cinzentos naquela manhã ensolarada tempo em que mais vinham à frente, apenas para, entre um passo e um salto, desaparecerem pela minha visão periférica. As janelas estavam em sua maioria fechadas devido ao horário tão cedo na manhã, mas eu sabia que uma não estava. Uma que abria bem cedo pela manhã, só para me esperar.
          Aumentei o ritmo um pouco, diminuindo o tempo entre os passos e encurtando a distância entre eu e o objetivo, e meus pés seguiram o fluxo sem que eu pensasse. Há certo ponto, havia se tornado automático: os pulos, aterrissagens, passos, tudo fluía de forma muito natural, e meus pés seguiam rapidamente por paredes e pisos.
          Eu chegava cada vez mais perto, e nem precisava mais calcular como fazia antes: era instantâneo. Em um salto, eu passei pela janela do seu apartamento. À meia luz, o espaço compacto pareceu menor do que realmente era. Achei que talvez chegasse dali a pouco, então me sentei no sofá. O relógio antigo que pendulava acima do portal que dava na cozinha me mostrava a passagem do tempo; tempo este que não estava cooperando: você estava cada vez mais demorando de chegar. Esperei pelo que me pareceram horas enquanto você estava sabe-se lá onde. Minha animação começou a desaparecer. Onde será que você estava? Aonde teria ido?
          Continuei esperando por muito tempo, e você não veio. Resolvi procurá-la. Apesar de conhecer a cidade na palma da mão, não fazia idéia de onde você estaria. Procurei primeiro nas padarias, depois nas bancas de jornal, depois simplesmente cansei do metodismo e procurei-a em qualquer lugar que aparecesse, e quando não e achei em canto algum, me entristeci. A chuva começou a cair, e os sons de trovão que anunciaram a sua chegada enfatizaram minha decepção em não te encontrar. De volta aos telhados e ignorando todos os conselhos que havia sempre ouvido sobre não correr na chuva, deixava os movimentos fluírem com a mesma naturalidade de sempre, mas não era fácil quando pensava em você preocupado como eu estava. As pernas iam perdendo a coordenação e meu equilíbrio não havia dado as caras; unindo esses fatores à chuva, era quase um suicídio.
          Por fim a loucura produziu seus frutos adversos. Em um escorregão, despenquei para um prédio vizinho. A queda foi de 6 metros de altura, e caí por cima do braço esquerdo, com um som horrível. Gritei de dor, e minha agonia foi abafada pela chuva. Enquanto eu sofria, onde estaria você? As lágrimas em meu rosto – não de dor, mas sim de tristeza – misturaram-se às gotas de chuva, e meus olhos foram fechando-se lentamente...
         
          Acordei em seu apartamento, envolto em uma toalha confortável. Você estava ao meu lado, segurando minha mão. Perguntei como havia me achado ali. ‘Estava passando pelo local. Ouvi um grito, e algo me disse que era você, então não hesitei’.
Eu sorri ao ouvir a resposta que esperava. Você se inclinou para um beijo que molhou seu rosto por completo, e eu a abracei, na ânsia de matar a saudade que havia me levado a cometer loucuras.

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