quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O objetivo

          Chovia do lado de fora do carro. A mata atlântica atrás do cercado precário de madeira passava rapidamente, e o borrão verde-escuro que deixava para trás era o reflexo da minha melancolia. Enquanto dirigia para qualquer lugar, percebi que não era tão difícil quanto parecia. Talvez houvesse arrependimento, mas não se o pagamento fosse suficiente. Diversas vezes já havia me perguntado se o que estava prestes a fazer era realmente o correto, e em todas essas vezes me lembrei que talvez fosse não apenas o correto: era o necessário.
          Não tinha certeza se teria sucesso, afinal, sempre havia resistência; mas eu estava armado, preparado. Teria de ceder. As luzes da cidade que se aproximavam me diziam implicitamente que eu estava cada vez mais perto do meu objetivo. Um objetivo que seria cumprido naquela noite, sem atrasos como haviam ocorrido antes diversas vezes. As falhas anteriores não se repetiriam, e o serviço seria feito. Os prédios pelos quais eu agora passava lançavam sua enorme sombra sobre mim, as quais eu deveria me acostumar: as luzes permaneceriam apagadas pelo resto da noite no cômodo onde eu alcançaria meu objetivo.
          Enquanto pensava no alvo, me deixei perguntar por mais uma vez se aquilo valeria a pena, e me lembrei da recompensa final. Um sorriso que não pude conter veio ao meu rosto; mas foi um sorriso passageiro. Eu logo poderia descansar, posto que cumprisse a missão. Parei o carro à entrada do apartamento. Subi as escadas em passos decididos. A porta estava aberta, o que me poupou o esforço. Posso então ver o alvo. Este se vira ao perceber a minha presença, e seus olhos expressam as emoções que se passam dentro de si. Talvez incredulidade, ou tranquilidade. Eu me aproximo. Desfiro as palavras finais.
          Você aceita a situação. Até mesmo sorri. Eu sorrio junto, e nos beijamos, novamente juntos.

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