sábado, 5 de novembro de 2011

O tempo e o mar

          O mar estava calmo naquela tarde ensolarada enquanto eu esperava por você. Suas visitas não eram das mais frequentes, mas era ótimo revê-la, como boa amiga que era, então planejava prolongar a visita ao máximo. Ansiava pela sua chegada, e quanto mais ansioso ficava, mais a face brincalhona do tempo se divertia em demorar-se de passar, como se debochasse de mim. Imaginava o que faria quando você chegasse, mas cheguei à conclusão de que seria melhor deixar todo o trabalho para a espontaneidade. Mesmo assim espanei levemente o piano, imaginando que seria usado como da última vez.
          Passei certo tempo tentando lembrar-me de algumas músicas especiais, mas é incrível como a urgência dos fatos nos toma a memória, só para devolver quando não precisamos mais tanto. De qualquer jeito seriam inúteis estas se não as executasse bem, então após certo esforço para relembrar uma ou duas, passei certo tempo praticando-as. Após ter certeza de que não havia mais nada que pudesse melhorar para adequar-me à sua visita, decidi que era hora de enfrentar o tempo brincalhão cara a cara. Ele insistia em espreguiçar-se à minha frente, esbanjando sua preguiça em passar. Bem, se o tempo não queria mover-se naquelas condições adversas, eu o moveria.
          Pus-me a escrever, e lembrei-me de alguns acontecimentos ocorridos para produzir uma nova história, que ficou pronta mais rápido do que eu gostaria. Após arquivá-la junto às demais, fui à praia banhar-me brevemente. O mar, em sua plenitude, ficou feliz de receber-me assim como eu a receberia em pouco tempo, e falou em meu ouvido como a esperava também. Disse a ele que era incerto que você fosse cumprimentá-lo àquelas horas, ainda mais estando me visitando. Ele pôs-se a insistir que eu lhe pedisse, então cedi, com a condição, claro, de que fostes comigo.
          Quando voltei para casa, faltava apenas uma hora para que chegasse. Esperei pacientemente junto a uma caixa de trufas de chocolate, que haviam vencido à batalha situada em minha mente e meu estômago, na qual tinham tido como adversário um belo e cheio cacho de uvas. Passado o tempo, você chegou, e abraçamo-nos, para iniciar um pequeno processo de retomada do tempo perdido, aliás, tempo que não havia sido bem aproveitado. Como havia imaginado, fomos ao piano, porém este nos acompanhou por mais tempo nesta visita.
          Conversamos sobre coisas como música, poesia, palavras e estudos, dentre outras pequenas coisas, mas novamente o tempo havia me desafiado, e compensado o tempo que havia demorado passando rapidamente. Quando vi, já era tarde da noite, e você teve de ir embora. Pelo menos, aquela noite foi bem aproveitada! Quem não gostou nada dela foi o mar, que está agora zangado comigo por eu ter me esquecido de levá-la para vê-lo.

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