sábado, 5 de novembro de 2011

Palavras e Expressões

          Muitas pessoas, às vezes, tentam dizer a alguém algo que simplesmente não quer sair, palavras que se alojam num nó recém-formado na garganta e ali se agarram com toda a força. Foi assim que me vi há algumas horas atrás. Em meio ao calor do momento, enquanto pessoas andavam arrumadas para lá e para cá, e alguns grupos pequenos conversavam sobre o palco, revisando o que fariam dentro de alguns minutos. Você estava parada, com uma sobrancelha erguida e um sorriso brotando no rosto. ‘Sim...?’
          Não importa a força que eu fizesse, as palavras não saíam, e o nó apertava, talvez por que estivessem se segurando fortemente nele.
          Você alterou sua expressão para uma desaprovação brincalhona. ‘Sabe que vai ter que me contar, não é? Já estou sentindo alguma coisa!’
          Eu sorri em resposta. ‘Certo, certo, eu conto assim que terminar’ eu disse, só para ver aquela expressão de expectativa que só você sabe fazer. Desci do palco pelas escadas laterais e me dirigi para as fileiras traseiras, enquanto você ficou por lá mesmo. As luzes se apagaram, e começaram a falar. A apresentação prosseguiu, e não foi nada má. Assim que acabou, fiquei preso em uma multidão que descia para arrumar a próxima apresentação; vi você passando longe, em direção ao saguão. Quando consegui me desvencilhar do aperto inconsciente da multidão, dei passos longos em sua direção. Passei por meus amigos, que cumprimentei rapidamente. Você estava lá.
          ‘Então, vai me contar?’ um sorriso mal-contido.
          ‘Ah, não é nada demais... ’
          ‘Então me conte agora!’
          ‘Tá... ’ Você me puxou para um cantinho vazio. Eu procurei as palavras para começar. Dessa vez, elas teriam que sair!
          ‘Eu gosto muito de você’ resolvi ser direto. ‘Nunca gostei tanto assim de alguém sem amar. ’ Não gostei muito da sua expressão depois disso.
          ‘O que eu sinto por você é... ’ as palavras novamente recusaram-se a sair, e era tão incômodo forçá-las que engasguei; pus-me então a procura de outras. ‘Nunca senti um sentimento tão forte de... Amizade por alguém antes. ’
          O seu sorriso valeu a moratória imposta às palavras e me fez sorrir ainda mais. Cada palavra do que eu dizia era verdade. Nada mais, nada menos.
          ‘Quero ser seu melhor amigo. De verdade. ‘ recebo um olhar de lado, ainda mantendo o sorriso.
          ‘Quem sabe... ’ Você me abraça demoradamente, e diz o quão lindo achou aquilo tudo, como se agradecesse pelo que eu havia dito. Despedimos-nos então, porque eu precisava ir, e você ficou, enquanto eu comemorava internamente a amizade que há pouco tempo eu mantinha; pois não é necessário tempo para unir as pessoas, e sim simpatia e vontade, e isso, ainda bem, você tem muito.
         
          

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