sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Onde se pode ter tudo

          As gotas de água pingavam na poça que já havia se formado, aumentando ainda mais seu tamanho. As pessoas que passavam não notavam a presença diferenciada que quebrava silenciosamente o padrão ao seu redor; o homem encapuzado passava despercebido. Aquele homem que ali passava tinha um objetivo único, e não era subordinado a ninguém senão à sua própria vontade. Seus dons o diferenciavam dos outros, e para aqueles que o conheciam intimamente, ele era especial, embora para os desconhecidos fosse só mais um.
          Com suas habilidades especiais, ele ia alterando o ambiente ao seu redor. Os postes iam se transformando em árvores altas e folhadas à medida que ele passava, e onde o cimento havia há muito dominado, começava então a brotar um verde inusitado ante sua presença. As pessoas iam tornando mais felizes, e começavam a cumprimentar-se ao se cruzarem. Os altos prédios iam pouco a pouco, ganhando de volta os anos que o tempo havia lhes tirado, retomando assim suas cores originais e dando um tom mais vibrante a paisagem.
          O sol brotava no céu, não porque era da preferência do homem encapuzado, mas sim porque era um símbolo de felicidade. Pássaros de todos os tipos agora cruzavam o céu, seu canto reverberando pelas ruas da cidade e dando vida àquele lugar que por anos havia permanecido mórbido, assim como os sentimentos e emoções de seus habitantes. A felicidade ia, pouco a pouco, voltando a ser inquilina daquele lugar esquecido.
          Tudo isso graças ao homem encapuzado e sua vontade. Sua existência era alheia à dos cidadãos, como se vivesse em outro plano. Pessoas, coisas e até o próprio tempo moldavam-se à sua vontade. Quando ele decidiu que estava bom, foi adentrando o universo que tinha acabado de criar: não pôs nele filhos ou criação; queria que aquele fosse seu novo mundo por alguns instantes, onde pudesse viver como sempre sonhou. Então, uma pessoa aproximou-se dele, uma mulher, e lhe tirou o capuz. ‘Lá fora me ignoras’ o homem disse a ela, ‘Mas aqui me amas. ’ Ela sorriu em concordância, e a história de ambos se desenrolou, enquanto, em outro lugar não muito distante, talvez um pouco acima, o escritor pousou a caneta na mesa e parou para ler o texto que havia acabado de escrever, onde o mundo era como queria e todos os seus sonhos poderiam se realizar quando quisesse.

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